terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O CORAÇÃO HUMANO.


"É um teatro em que se representam todas as cenas, das mais trágicas as mais burlescas. É um instrumento em que todas as cordas vibram, e que nem sempre anda afinado.
Umas vezes, restrito e quieto como o altar em que só pode estar um santo, outras vezes amplo e barulhento como uma hospedaria em que entram caras novas todos os dias. E nada lhe altera a natureza.
Puro e sereno como o céu sem nuvens, negro e sombrio como uma noite de tempestade, é sempre o mesmo coração humano.



Fala uma língua que e todas asnações se entende, mas de que ninguém pode fixar as regras. Aninha todas as virtudes e todos os vícios, tendo uma moral sua, que o leva com igual impulso, pelo bem ou pelo mal, para um fim almejado: a satisfação do eu.



Aquilo mesmo que se combinou chamar abnegação, sacrifício, é o egoísmo depurado, a quinta essência o gozo, que consiste em sofrer, para ter o prazer de evitar o sofrimento àuele a quem o coração dedia.
Eu creio que no coração humano há um gérmen de tudo que há de bom e mau na natureza: o suco de todas as plantas, as que nutrem e as que matam; um pouco de todos os animais indistintamente, leões, e cordeiros, o pelicano e o abutre, os que voam e os que se arrastam; as mariposas, que morrem na luz, e os micróbios que nascem na podridão.

Como estranhar que ele seja sublime e covarde, adorávele repulgnante, heroicamente grande ou microscopicamente mesquinho?"



(Texto de: Ferreira Araújo).

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